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OPINIÃO: Cocó, a pata de estimação

Corria a década de 1950. Eu estudava no curso primário (hoje, Ensino Fundamental) do Grupo Escolar João Belém. A diretora era a professora Edy Maya Bertoia. Depois substituída pela professora Diquel Siqueira. Os tempos eram difíceis. Meu pai trabalhava em dois empregos. Minha mãe fazia doces para fora. Meu avô, ferroviário, sempre ajudava.

A Viação Férrea do RGS, naquela época, estava no auge e seus funcionários ganhavam os mais altos salários da cidade. Meu pai estava construindo uma casa com todas as dificuldades inerentes a um funcionário público que se metesse numa empreitada dessas. No nosso pátio tinha horta, canteiro de flores, duas cabritas (passei minha infância tomando leite de cabra), dois cachorros, um gato, uma caturrita, laranjeiras, bergamoteiras, figueira, limoeiros, bananeiras. E tinha um grande galinheiro, com mais de 100 galinhas, cujos ovos eram recolhidos diariamente. No pátio, criada livremente a meu pedido, andava feliz uma pata simpaticíssima chamada por mim de "Cocó". Foi um dos meus primeiros animais de estimação.

A pata andava atrás de mim por onde eu andasse, emitindo o som característico da sua espécie. Quando as finanças apertaram na parte final da conclusão da construção da nossa nova casa, meu pai anunciou que - para fins de economia na compra da carne - passaríamos a comer as galinhas todas, o que realmente ocorreu. Era galinha frita, galinha na panela, risoto, pastelão de galinha desfiada. Isso me fez enjoar tanto de carne de galinha que até hoje não gosto de comer dessa carne.

Num domingo, chegando da missa na Catedral Diocesana de Santa Maria, onde sempre ía em companhia de minha avó, achei estranho a "Cocó" não ter me esperado no portão como sempre fazia. Na hora do almoço falei sobre o desaparecimento da pata e veio a verdade nua e crua, anunciada por minha mãe: "Teu pai mandou matar e assar a Cocó".

Saí vomitando pelo pátio, chorando e, aos gritos, maldizendo a família inteira. Não comi naquele maldito domingo. Até hoje, mais de meio século depois, lamento não ter uma foto com a minha patinha Cocó.

Devo ter sido o único menino do mundo que chorou pela morte de uma pata.

Desde aquela época eu já era uma pessoa esquisita.

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